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Datando a epístola
Para datarmos a epístola aos gálatas é necessário ter em mente o problema da localização da Galácia.
Se a escolha da localização da Galácia for aquela que LOHSE chama de teoria Sul Galática, a epístola teria sido escrita durante a segunda viagem de Paulo. Concordamos com estudiosos CHAMPLIN que acena com esta hipótese. E temos que Paulo, após escrever a Carta aos Gálatas, subiu para Jerusalém, para a realização do Concílio citado em Atos dos Apóstolos 15.
“É provável que nenhuma seção de Atos dos Apóstolos tenha levantado tanta controvérsia como esta, nem levado a tantas reconstruções históricas diferentes da mesma situação” (MARSHALL, I. H. Atos – Introdução e Comentário. Editora Mundo Cristão: São Paulo, 1982, p. 231). E não temos a ilusão de sanar todas as dúvidas levantadas por tão brilhantes estudiosos da Bíblia ao longo dos anos! Apenas queremos apresentar uma “via” de interpretação para tal texto, entre tantas que são apresentadas, sempre com pontos favoráveis e contrários. Não em relação ao texto em si, mas quanto a sua posição histórica!
Levando isso em consideração, precisamos tentar “datar” o texto. Não necessariamente dizer o ano que o evento aconteceu, mas tentar localizar o mesmo diante da comparação com outros textos. Os estudiosos tentam harmonizar a data do “Concílio em Jerusalém” de Atos dos Apóstolos 15 com o texto da carta de Paulo aos Gálatas. Comparando as “idas de Paulo” até Jerusalém do texto de Gálatas com Atos dos Apóstolos, alguns estudiosos entendem que a visita do capítulo 2 de Gálatas seria essa relatada no capítulo 15 de Atos dos Apóstolos. Mas não vemos dessa forma! Temos outra comparação:
- Atos dos Apóstolos 9.26-30 compara-se com Gálatas 1.18-24 (Gálatas 1.17 pode ser comparado com Atos dos Apóstolos 9.20-25) - aqui Paulo não sobe para Jerusalém com Barnabé, e em Atos dos Apóstolos eles teriam se encontrado por lá;
- Atos dos Apóstolos 11.27-30 e 12.25 compara-se com Gálatas 2.1-10 – isso porque o movimento que tentava definir a necessidade de algumas observações da Lei judaica por parte dos gentios convertidos começa a incentivar essas coisas, entendemos por zelo exagerado, e esse movimento aos poucos ganhou notoriedade, ainda que pudesse ser comentado desde o seu início, ainda sem uma definição que se apresentasse como decisiva (cada um falava o que achava certo).
O texto de Gálatas 2.1-10 nos faz pensar que Pedro seria ainda favorável ao ensino da questão dos da circuncisão (2.8), sendo que em Atos dos Apóstolos 15.1-35 ele é um dos que fala contra essa realidade para os gentios! E Gálatas 2.11-21 ainda faz parecer que tanto Pedro como Tiago (pelo menos, alguns que estariam falando como se fosse em nome dele) seriam ainda favoráveis ao trato dos gentios com base na Lei, citando a questão da circuncisão e o ato de comer com os gentios convertidos.
Assim, parece-nos que a carta de Paulo aos Gálatas foi escrita quando a controvérsia parecia aumentar, mesmo diante da conversão dos gentios e dos relatórios que davam conta do poder de Deus se manifestando na vida dos gentios, mesmo sem esses observarem preceitos da Lei, como os judeus faziam. Parece que num primeiro momento, pelo que lemos em Gálatas, Tiago e Pedro teriam entendido o trabalho missionário de Paulo entre os gentios, mas eles ainda estariam mais entre os judeus. E com mais conversões entre os judeus, esses, ainda apegados a aspectos legalistas e aparentes, queriam que necessariamente os gentios se submetessem aos mesmos ritos para mostrar o devido compromisso com a Palavra. Por mais que alguns achem que não, vemos isso como a questão de “usos e costumes” (ou ainda a obrigatoriedade por uma forma específica de batismo) que parecem definir a questão da salvação e da santidade para alguns irmãos na fé (como se atos externos pudessem ter “força” de salvação), e esses se esquecem que apenas a aparência não resolve nada, e acabam dando mais importância ao que aparece aos olhos humanos, do que o que realmente importa ao Senhor: um coração contrito e quebrantado... E Paulo, vendo que os Gálatas poderiam ceder a essa ideia, segue com sua carta pelo capítulo 3 dizendo que isso não era necessário.
Dessa forma, entendemos que Atos dos Apóstolos 15.1-35 refere-se a uma nova visita de Paulo a Jerusalém, depois dos eventos relatados em Gálatas (e concordam conosco nessa observação MARSHALL, I. H. Atos – Introdução e Comentário. Editora Mundo Cristão: São Paulo, 1982, bem como CHAMPLIN, R. N. O novo Testamento interpretado versículo por versículo. Volume III Atos – Romanos. MILENIUM Distribuidora Cultura Ltda: São Paulo, 1982). Até porque no texto de Gálatas, parece que alguns estão falando “como se em nome de Tiago”, e no texto de Atos dos Apóstolos 15.24 deixa claro que Tiago não tinha enviado ninguém para falar sobre o assunto: “Portanto ouvimos que alguns dentre nós, aos quais nada mandamos, vos têm perturbado com palavras, confundindo as vossas almas”.
Essa decisão, segundo MARSHALL (MARSHALL, I. H. Atos – Introdução e Comentário. Editora Mundo Cristão: São Paulo, 1982.) ou ainda CHAMPLIN (CHAMPLIN, R. N. O novo Testamento interpretado versículo por versículo. Volume III Atos – Romanos. MILENIUM Distribuidora Cultura Ltda: São Paulo, 1982.) ainda carece de, pelo menos, uma resposta: Por que os Gálatas não são citados entre os que deveriam receber a carta? Atos dos Apóstolos 15.23 cita Antioquia, Síria e Cicília como destinatários imediatos. Acreditamos que de acordo com a necessidade, outros locais devem ter recebido essa carta, até que o texto de Atos dos Apóstolos tivesse maior circulação. Entendemos que essa questão se responde com a seguinte situação:
"Gálatas é a única carta que Paulo endereçou especialmente a uma grupo de Igrejas. A Galácia não era uma cidade, mas uma região da Ásia Menor, que incluía várias cidades. Seu nome originou-se no Séc. III a. C., quando uma tribo de pessoas da Gália migrou para o local. No séc. I d. C. , o termo 'Galácia' era usado geograficamente para indicar a região centro-norte da Ásia Menor, onde os gálios tinha se estabelecido. Politicamente, designava a província romana na parte centro-sul da Ásia Menor. Paulo enviou esta carta para as igrejas na província da Galácia, uma área que incluía as cidades de Antioquia, Icônia, Listra e Derbe" - conferir http://www.compartilhandonaweb.com.br/Compartilhando/Portuguese/Meditacoes/2007/01-janeiro/150107.html - O texto do site ainda é amplamente apresentado por CHAMPLIN, R. N. O novo Testamento interpretado versículo por versículo. Volume IV – 1 Coríntios – Efésios. MILENIUM Distribuidora Cultura Ltda: São Paulo, 1982.
Dessa forma, os “Gálatas” estariam sim incluídos no envio original da carta com a decisão do Concílio de Jerusalém. E isso, para nós, é suficiente para o entendimento que o Concílio de Jerusalém, relatado em Atos dos Apóstolos 15.1-35 está inserido, historicamente, entre a Carta de Paulo aos Gálatas e o início da Segunda Viagem Missionária de Paulo, registrada (o seu início) em Atos dos Apóstolos 15.36-41.
Forte abraço!
Em Cristo,
Ricardo, pastor
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